Viemos a este mundo e fomos
acolhidos pela sociedade que pediu em troca o nosso sigilo, a nossa invalidez,
que satisfizéssemos as expectativas estipuladas para nós e que enxergássemos
uma realidade desbotada. Que mantivéssemos a tradição do sigilo. A gente cresce, se desenvolve e
se depara com a verdade - que tarda, mas que, arrebatadora, esmurra o nosso
portão quando vem. Dá sermão, nos revela o quanto tudo é monótono e nos mostra
porque a tentativa de insistir em planos inertes não é um caminho de satisfação
pessoal.
Uma coisa é certeira: um dia você vai se questionar sobre tudo que
tem vivido, como tem escolhido os simples detalhes da sua rotina e como tem
lidado com a sua companhia. E desde então este ciclo será repetitivo.
Planos traçados, opiniões
formadas e de repente algo mais forte e externo desconstrói tudo isso. E esse é
justamente o momento de refletir como nós vivemos. Como nós nos comportamos, como
agimos para com as outras pessoas, como olhamos para fora... os nossos
sentimentos se tornam cada vez mais intensos e a sensação de não-pertencimento
a esse mundo vem à tona. Nós nos esforçamos durante tanto tempo para nos
adaptar a um desejo extrínseco e tudo isso se desfalece?
A gente sempre usou a
possibilidade de se enquadrar em padrões como uma necessidade, uma
característica fundamental à vida. A gente deixou de usar as roupas que
queríamos, falar do nosso jeito e decidiu olhar para tudo com frieza,
indiferença. A gente decidiu se transformar para se igualar porque parece ser
mais conveniente. E quem disse isso para a gente? Quem invadiu nossas mentes para
plantar a obrigação de andar na risca?
Porque criamos bolhas a nossa
volta ao invés de refletirmos e eliminarmos tudo aquilo que nos coíbe? São as reações à possibilidade de sermos diferentes?
São as turbulências?
Convenhamos que se esforçar para encaixar-se em um padrão para
satisfazer questões externas nunca foi percurso de gente que quer ser feliz do
jeito que é. E é por isso que nós vamos seguir, de um jeito ou de outro.
Pode ser que isso seja um
sacrifício e que consigamos nos manter estáveis sob linhas muito tênues..., mas
é muito mais provável que na metade do caminho percebamos que a possibilidade
de ser algo totalmente novo de qualquer coisa desse mundo é ter o privilégio de
nunca se preocupar com a discrepância. O mundo dos iguais vive em modo estacionário
e o universo dos loucos é um baú de experiências novíssimas.
Portanto, não admitamos que as
nossas parcelas de particularidades sejam extintas porque é mais conveniente uma
raça pálida, entediada, descrente. Assumamos o compromisso de nos honrar todos
os próximos dias, e se fracassarmos, ainda há tempo disposto a mais tentativas.
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