Olá! Tudo bem com você? ;)
Hoje eu trouxe um conto que escrevi para o Concurso #brasilemprosa, que, infelizmente, não pude participar. Mas é um conto que escrevi com muito carinho, e acho que o resultado ficou bem legal. Adicionei o "Leia Mais" porque é grande e ficaria enorme na página principal. Boa leitura!
"Ainda me
lembro do dia em que bati na porta de Elisa, quando precisei pedir um copo de
água, em virtude do clima quente.
Eram quatro
da tarde. O sol estava muito forte. Uma tarde de verão.
Bati na
porta de uma casa de cor amarela – a mais chamativa da rua. Queria apenas um
copo de água. Uma mulher com aparência de quarenta e poucos anos abriu-a, me
olhou com olhos de questionamento e, parada, permaneceu por alguns segundos.
Pedi a água,
e ela me convidou para entrar em sua casa, parecia que já me conhecia há muito
tempo. Era uma sala simples, com duas poltronas de couro e uma mesinha de
centro de madeira maciça em verniz, que abrigava pequenos brinquedos. Alguns
quadros com fotos aparentemente antigas, enfeitavam a parede que estava
envelhecida pelo tempo. Um tapete encardido cobria o chão, e um calendário
ficava atrás da porta.
Me sentei em
uma das poltronas enquanto ela buscava o que eu havia pedido. A mulher que
vestia uma camisola azul-claro veio com um copo de água na mão, e me entregou,
oferecendo-me. Não pensei duas vezes e tomei tudo, enquanto ela se apresentava
e resumia a sua breve história de vida.
Era Elisa,
uma mulher de trinta e dois anos, que, aos vinte e sete, foi abandonada pelo
recém-marido, ou melhor, o amor de sua vida. A juventude e a vaidade foram se
perdendo com o tempo. Tinha uma expressão de sofrimento, parecia que tivesse
sentido muita dor. Tinha uma aparência muito mais velha do que realmente era,
me surpreendi ao saber sua verdadeira idade.
Elisa se
apaixonou ainda aos vinte e cinco anos, quando tinha caído em um novo mundo que
não conhecia... Deixou a família – que morava na capital – e decidiu seguir em
busca de seu relacionamento. O que fracassou. Ela possuía um emprego no melhor
jornal de BH, e largou tudo com a promessa de um dia voltar.
Desde quando
o marido foi embora, Elisa se trancava naquela casa e, após aquele dia, nunca
quis sair para se distrair. As fotografias na parede eram da cerimônia do
casamento, e, os brinquedos que permaneciam na mesa de centro, eram de um filho
que ela perdera ainda no sexto mês de gestação. Tudo permanecia intacto.
As
lembranças pairavam no ambiente. Ela decidiu trazer um chá pra nós dois,
enquanto fiquei perturbado com tudo aquilo que ela dizia. Parecia uma mulher de
meia idade, quando, na verdade, tinha trinta e poucos anos e os últimos cinco
anos de sofrimento. Mesmo que não a conhecesse tão bem, continuei sentado na
poltrona, a ouvir o que ela dizia.
Ela
trouxe-me um chá de hortelã. A xícara vinha sobre um pires, dentro de uma
bandeja de café-da-manhã. Ela continuou suspirando, enquanto tomávamos o chá,
que soltava fumaça, ainda quente. Enquanto eu soprava a bebida, Elisa dava
goladas na xícara, como se não sentisse aquela temperatura.
Após muitos
assopros e goles, a xícara se esvaziou, e o suor em meu rosto era visível.
Escorria pela minha testa e banhava o queixo – talvez estivesse calor demais
para tomar bebidas quentes. Um barulho surgir, de repente. Ela foi ver o que
era, e eu a acompanhei. Era apenas a porta do quarto, que rangia. Entramos naquele
cômodo.
Um
guarda-roupas com duas portas enormes ocupava a parede que ficava ao lado da
porta. Uma cama de casal ficava ao centro, e um criado-mudo ficava encostado na
parede. Ela abriu as portas do guarda-roupas, que já estavam emperradas e fazendo
barulho. Me aproximei. Pendurado num cabide, estava um lindo vestido branco – o
que ela havia usado em seu casamento. Nas gavetas, o álbum de fotografias dos
dois.
“Aproxime-se
mais... Aqui estão as minhas melhores lembranças.”
Elisa tomou
em suas mãos aquele álbum, o retirou da maleta de veludo preto e começou a
folheá-lo. Nas fotos, ela aparecia tão sorridente e com o semblante leve, que
já não parecia ser a mesma. Estranhei muito, parecia que, mesmo que aquele
casamento tivesse acabado, Elisa lembrava-o com muito carinho.
Uma foto das
mãos entrelaçadas, em preto e branco, fechava o álbum com chave de ouro. Talvez
um dos mais bonitos gestos que ela presenciou. Enquanto observávamos aquela
verdadeira obra de arte, estávamos sentados em sua cama.
Já não era
preciso visitar todos os outros cômodos.
Parecia que
aquela mulher se prendeu na tristeza, desde que o homem da sua vida a
abandonou. Os porquês ainda permaneciam: talvez ele se foi por dor, ao perder
seu primeiro filho. Talvez ele se casou apenas por interesse, pois ela possuía
uma vida profissional promissora. Talvez ele se cansou de um casamento forçado,
impensado.
Só sei que,
a vida deixa marcas profundas. E, com essa mulher, ela foi mais cruel ainda.
Tirou quem ela amava e também um filho que ela tanto esperava e queria.
Depois de
tanto ouvi-la, eu percebia que os teus olhos brilhavam. Elisa me deu um abraço
forte, e eu não sentia nenhum tipo de repulsa por ela. Aquela mulher deixou de
parecer a mesma desde que entrei em sua casa. O seu semblante estava leve como
naquelas fotografias!
Já eram sete
da noite e eu me direcionei à porta.
Passamos
todos os dias por ruas, avenidas, vielas e esquinas, e, na maioria (ou em
todos) os nossos percursos, não damos a devida atenção à quem se encontra nos
arredores. Eu não surgi para Elisa, foi Elisa que decidiu mostrar pra mim que,
quando a gente busca, conseguimos mudar o mundo, tornando-o maravilhoso.
Elisa, hoje,
é uma mulher que abriga em si, uma cor própria. Ela superou tudo que viveu e
enfrentou. Conseguiu seguir em frente, depois que percebeu que, viver é uma
possibilidade única. Somos grandes amigos, depois de uma tarde inesperada de
verão.
Elisa era
uma alma perdida que precisou de um resgate, e tudo que ela precisou foi alguém
que pudesse a ouvir!
Elisa, desde
aquele dia, encontrou um amigo. Eu tive a sorte de encontrar Elisa. Há seis
anos nos conhecemos. Ela está nos seus trinta e oito anos, e tem uma aparência
perfeita. A amizade resgatou-a da solidão, e, um dia comum de verão, deixou a
minha vida mais feliz."
E aí? O que acharam?
Grande abraço e até mais!
Ps: Eu havia dito que o vídeo de DIY do Canal sairia ainda essa semana, mas não sou eu que estou editando, e ainda não obtive resposta do editor. Mas não se preocupem, assim que estiver pronto eu aviso nas redes sociais do blog! :D
Adorei teu texto, tu escreve muito bem. A amizade é uma coisa tão simples e tão complexa ao mesmo tempo, ela pode surgir de uma hora para outra e se tornar eterna :D
ResponderExcluirwww.criatividadesem.com.br
Que bom que gostou! A amizade é uma inesperada e maravilhosa descoberta! <3
ExcluirVolte sempre!
Já falei que você arrasa? Não, então VOCÊ ARRASA!
ResponderExcluirAMEI O TEXTO.
Beijos
Você também arraza! hahaha
ExcluirBeijo!