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31 de julho de 2015

Conto: Uma Vida Em Preto e Branco

Olá! Tudo bem com você? ;)
Hoje eu trouxe um conto que escrevi para o Concurso #brasilemprosa, que, infelizmente, não pude participar. Mas é um conto que escrevi com muito carinho, e acho que o resultado ficou bem legal. Adicionei o "Leia Mais" porque é grande e ficaria enorme na página principal. Boa leitura!



"Ainda me lembro do dia em que bati na porta de Elisa, quando precisei pedir um copo de água, em virtude do clima quente.
Eram quatro da tarde. O sol estava muito forte. Uma tarde de verão.

Bati na porta de uma casa de cor amarela – a mais chamativa da rua. Queria apenas um copo de água. Uma mulher com aparência de quarenta e poucos anos abriu-a, me olhou com olhos de questionamento e, parada, permaneceu por alguns segundos.
Pedi a água, e ela me convidou para entrar em sua casa, parecia que já me conhecia há muito tempo. Era uma sala simples, com duas poltronas de couro e uma mesinha de centro de madeira maciça em verniz, que abrigava pequenos brinquedos. Alguns quadros com fotos aparentemente antigas, enfeitavam a parede que estava envelhecida pelo tempo. Um tapete encardido cobria o chão, e um calendário ficava atrás da porta.

Me sentei em uma das poltronas enquanto ela buscava o que eu havia pedido. A mulher que vestia uma camisola azul-claro veio com um copo de água na mão, e me entregou, oferecendo-me. Não pensei duas vezes e tomei tudo, enquanto ela se apresentava e resumia a sua breve história de vida.
Era Elisa, uma mulher de trinta e dois anos, que, aos vinte e sete, foi abandonada pelo recém-marido, ou melhor, o amor de sua vida. A juventude e a vaidade foram se perdendo com o tempo. Tinha uma expressão de sofrimento, parecia que tivesse sentido muita dor. Tinha uma aparência muito mais velha do que realmente era, me surpreendi ao saber sua verdadeira idade.
Elisa se apaixonou ainda aos vinte e cinco anos, quando tinha caído em um novo mundo que não conhecia... Deixou a família – que morava na capital – e decidiu seguir em busca de seu relacionamento. O que fracassou. Ela possuía um emprego no melhor jornal de BH, e largou tudo com a promessa de um dia voltar.
Desde quando o marido foi embora, Elisa se trancava naquela casa e, após aquele dia, nunca quis sair para se distrair. As fotografias na parede eram da cerimônia do casamento, e, os brinquedos que permaneciam na mesa de centro, eram de um filho que ela perdera ainda no sexto mês de gestação. Tudo permanecia intacto.
As lembranças pairavam no ambiente. Ela decidiu trazer um chá pra nós dois, enquanto fiquei perturbado com tudo aquilo que ela dizia. Parecia uma mulher de meia idade, quando, na verdade, tinha trinta e poucos anos e os últimos cinco anos de sofrimento. Mesmo que não a conhecesse tão bem, continuei sentado na poltrona, a ouvir o que ela dizia.
Ela trouxe-me um chá de hortelã. A xícara vinha sobre um pires, dentro de uma bandeja de café-da-manhã. Ela continuou suspirando, enquanto tomávamos o chá, que soltava fumaça, ainda quente. Enquanto eu soprava a bebida, Elisa dava goladas na xícara, como se não sentisse aquela temperatura.
Após muitos assopros e goles, a xícara se esvaziou, e o suor em meu rosto era visível. Escorria pela minha testa e banhava o queixo – talvez estivesse calor demais para tomar bebidas quentes. Um barulho surgir, de repente. Ela foi ver o que era, e eu a acompanhei. Era apenas a porta do quarto, que rangia. Entramos naquele cômodo.
Um guarda-roupas com duas portas enormes ocupava a parede que ficava ao lado da porta. Uma cama de casal ficava ao centro, e um criado-mudo ficava encostado na parede. Ela abriu as portas do guarda-roupas, que já estavam emperradas e fazendo barulho. Me aproximei. Pendurado num cabide, estava um lindo vestido branco – o que ela havia usado em seu casamento. Nas gavetas, o álbum de fotografias dos dois.
“Aproxime-se mais... Aqui estão as minhas melhores lembranças.”
Elisa tomou em suas mãos aquele álbum, o retirou da maleta de veludo preto e começou a folheá-lo. Nas fotos, ela aparecia tão sorridente e com o semblante leve, que já não parecia ser a mesma. Estranhei muito, parecia que, mesmo que aquele casamento tivesse acabado, Elisa lembrava-o com muito carinho.
Uma foto das mãos entrelaçadas, em preto e branco, fechava o álbum com chave de ouro. Talvez um dos mais bonitos gestos que ela presenciou. Enquanto observávamos aquela verdadeira obra de arte, estávamos sentados em sua cama.
Já não era preciso visitar todos os outros cômodos.
Parecia que aquela mulher se prendeu na tristeza, desde que o homem da sua vida a abandonou. Os porquês ainda permaneciam: talvez ele se foi por dor, ao perder seu primeiro filho. Talvez ele se casou apenas por interesse, pois ela possuía uma vida profissional promissora. Talvez ele se cansou de um casamento forçado, impensado.
Só sei que, a vida deixa marcas profundas. E, com essa mulher, ela foi mais cruel ainda. Tirou quem ela amava e também um filho que ela tanto esperava e queria.
Depois de tanto ouvi-la, eu percebia que os teus olhos brilhavam. Elisa me deu um abraço forte, e eu não sentia nenhum tipo de repulsa por ela. Aquela mulher deixou de parecer a mesma desde que entrei em sua casa. O seu semblante estava leve como naquelas fotografias!
Já eram sete da noite e eu me direcionei à porta.
Passamos todos os dias por ruas, avenidas, vielas e esquinas, e, na maioria (ou em todos) os nossos percursos, não damos a devida atenção à quem se encontra nos arredores. Eu não surgi para Elisa, foi Elisa que decidiu mostrar pra mim que, quando a gente busca, conseguimos mudar o mundo, tornando-o maravilhoso.
Elisa, hoje, é uma mulher que abriga em si, uma cor própria. Ela superou tudo que viveu e enfrentou. Conseguiu seguir em frente, depois que percebeu que, viver é uma possibilidade única. Somos grandes amigos, depois de uma tarde inesperada de verão.
Elisa era uma alma perdida que precisou de um resgate, e tudo que ela precisou foi alguém que pudesse a ouvir!


Elisa, desde aquele dia, encontrou um amigo. Eu tive a sorte de encontrar Elisa. Há seis anos nos conhecemos. Ela está nos seus trinta e oito anos, e tem uma aparência perfeita. A amizade resgatou-a da solidão, e, um dia comum de verão, deixou a minha vida mais feliz."

E aí? O que acharam?
Grande abraço e até mais!

Ps: Eu havia dito que o vídeo de DIY do Canal sairia ainda essa semana, mas não sou eu que estou editando, e ainda não obtive resposta do editor. Mas não se preocupem, assim que estiver pronto eu aviso nas redes sociais do blog! :D

4 comentários:

  1. Adorei teu texto, tu escreve muito bem. A amizade é uma coisa tão simples e tão complexa ao mesmo tempo, ela pode surgir de uma hora para outra e se tornar eterna :D

    www.criatividadesem.com.br

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    1. Que bom que gostou! A amizade é uma inesperada e maravilhosa descoberta! <3

      Volte sempre!

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  2. Já falei que você arrasa? Não, então VOCÊ ARRASA!

    AMEI O TEXTO.

    Beijos

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